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Bolsonaro usa ONU como palanque

Presidente faz discurso voltado para seu eleitorado, mente sobre desmatamento na Amazônia e ataca Lula

Danilo Rocha Lima
#Jair Bolsonaro20 de set. de 223 min de leitura
O presidente Jair Bolsonaro fala na 77ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na sede da ONU, em Nova York. Foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP
Danilo Rocha Lima20 de set. de 223 min de leitura

Seguindo a tradição da ONU, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, abriu a 77a. Assembleia-Geral da organização nesta terça-feira (20)  com um discurso de campanha eleitoral que gerou poucos aplausos e foi, essencialmente, voltado para o seu eleitorado.  

Bolsonaro, que discursou pela quarta vez na ONU, centrou sua fala em realizações de seu governo, mas também abordou temas internacionais como a Guerra na Ucrânia e a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, pauta que há anos é defendida pela diplomacia brasileira.

"Assim como ele fez no Reino Unido durante um período de luto nacional, em que usou o funeral da rainha Elizabeth II para fazer palanque eleitoral, hoje ele fez a mesma coisa dentro das Nações Unidas. A maior parte do discurso dele foi dedicado a questões domésticas, extremamente conservadoras", diz Maiara Folly, diretora de programas da Plataforma Cipó, um instituto de pesquisa independente liderado por mulheres e dedicado a questões de clima, governança e paz.

Para um público internacional alarmado com o aumento do desmatamento da Amazônia, Bolsonaro insistiu que o Brasil é um exemplo de proteção ambiental. O presidente disse que "80% da Amazônia continua intacta", omitindo que nos primeiros oito meses de 2022 a floresta registrou os maiores índices de desmatamento em 15 anos.

A expectativa existente após dois anos de realização da sessão virtual ou em formato híbrido da Assembleia Geral ONU não foi o suficiente para suprimir a falta dos aplausos dos presentes, logo depois do discurso do presidente brasileiro. Foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP
A expectativa existente após dois anos de realização da sessão virtual ou em formato híbrido da Assembleia Geral ONU não foi o suficiente para suprimir a falta dos aplausos dos presentes, logo depois do discurso do presidente brasileiro. Foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP

Ataque a Lula

"Essa tentativa do presidente de passar a imagem do Brasil como um modelo de proteção ambiental não se sustenta nos fatos", afirma Folly. "Isso foi perdido nesses últimos quatro anos, em função de uma postura anticlimática, dos níveis recordes de desmatamento na Amazônia, do sucateamento dos órgãos ambientais, do estímulo aos crimes ambientais, dos assassinatos dos defensores ambientais."

Bolsonaro também aproveitou o discurso para atacar seu principal adversário na corrida ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sem citar o nome do petista – que lidera todas as pesquisas de intenção de voto nas eleições deste ano –  ele afirmou que a corrupção foi extirpada do Brasil durante o seu governo e lembrou o escândalo da Petrobras.

"O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade", disse Bolsonaro.

O presidente destacou ainda o programa de distribuição de renda Auxílio Brasil e descreveu um cenário positivo na economia, ao lembrar da queda no índice de desemprego, a deflação e o crescimento do PIB em 2022.

Diplomacia

Diante da Assembleia-Geral, o presidente repetiu o pedido de vários chefes de estado brasileiros por uma reforma do Conselho de Segurança da ONU e defendeu uma resolução pacífica de conflitos, como a Guerra na Ucrânia.

"Isso é uma grande contradição com a postura doméstica dele, porque a gente teve nos últimos anos um acréscimo de mais de 400% no consumo de armas de fogo no Brasil. É um presidente que está constantemente incitando o ódio e a violência. Então é muito contraditório e muito pouco convincente que ele use a ONU para tentar defender a paz e a segurança, quando ele faz exatamente o oposto dentro de casa", diz Folly.

Assista a trechos da entrevista em vídeo

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