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Empresa europeia produz energia elétrica sem barragens ou desvio de rios

Companhia belga de 20 pessoas cria uma nova maneira de produzir energia hidrelétrica. Agora, graças a uma turbina, desviar rios, inundar grandes áreas ou desalojar centenas de pessoas pode virar coisa do passado

Danilo Rocha Lima, Headline
#Energia 2 de set. de 224 min de leitura
Instalação de uma Vortex Turbina, projeto que consiste em instalações de pequenas turbinas sem interferência na hidrologia. Foto: Vortex/ divulgação.
Danilo Rocha Lima, Headline2 de set. de 224 min de leitura

Rios são responsáveis por 85% da energia elétrica renovável consumida atualmente. Mas, produzir energia hidrelétrica rimava com grandes construções, desvio de cursos de água e impactos ambientais não mais admitidos em pleno século XXI. Não rima mais. A solução pode estar em uma pequena turbina de 3 metros de diâmetro, batizada de Vortex Turbine.

A empresa belga Turbulent criou um método simples para continuar produzindo energia elétrica em qualquer lugar que tenha um rio, um canal ou uma pequena queda d'água, sem para tanto empreender grandes obras ou impactar na vida aquática.

"Não precisamos de muito. Um desnível entre 80 centímetros e um metro já é suficiente. Basicamente estamos falando de um moinho de água, para simplificar. Os tradicionais moinhos de água giram verticalmente. O nosso gira horizontalmente, usando o poder da gravidade da água", explica Walter Buydens, da Turbulent. "Fazemos um pequeno desvio, entre quatro e dez metros, a depender do rio. Assim, não tocamos na sua hidrologia. Mantemos o fluxo como está e não evaporamos a água. A água entra e sai da turbina. Os peixes podem entrar e sair sem serem prejudicados. Não há muita diferença de pressão entre a entrada e a saída e atingimos nosso objetivo que era salvar a vida dos peixes nos nossos rios."

Essa produção sem grandes danos à natureza tornou-se realidade graças à observação dos fundadores da empresa na dinâmica dos rios. Eles aplicam técnicas da biomimética, que nada mais é do que a imitação do fluxo da água em rios, riachos, canais e cachoeiras. A instalação da turbina apenas dá um "empurrãozinho" em locais com pequenos desníveis, para que a água possa movimentar as turbinas e gerar energia.

Outra vantagem das turbinas Vortex é a redução da poluição visual e o aproveitamento de pequenos espaços. Cada turbina fica totalmente submersa, evitando assim o impacto visual causado por geradores de energia eólica, por exemplo. Além disso, uma turbina de três metros de diâmetro produz o equivalente a um conjunto de painéis solares instalados numa área do tamanho de um campo de futebol. E em tempos de grandes mudanças climáticas, a facilidade de instalação conta muito. Por isso, as turbinas foram desenhadas para se adaptarem ao volume de água dos rios e canais, para que continuem a produzir eletricidade mesmo em tempos de seca.

A empresa, criada em 2015, começa a chamar a atenção em várias partes do mundo. As turbinas já estão presentes em 12 países, em instalações que vão de fazendas, canais de irrigação, vilarejos, cidades de médio porte a até castelos.

"Essa turbina não é um brinquedo. É algo para valer e que pode mudar a vida de muita gente. Por exemplo, quando pegamos uma turbina de 70 quilowatts de potência, podemos produzir em um ano, meio megawatt. E no mundo ocidental, industrializado, seriam 125 famílias atendidas. Em lugares como na África, isso significaria 500 famílias. Se você calcular baseado na média de pessoas por família naquele continente, você pode impactar a vida de 2500 pessoas com uma só turbina", lembra Buydens, que adiciona a iluminação de ruas e prédios comunitários entre os locais beneficiados pela Vortex.

Fundadores da empresa junto à uma usina já em funcionamento. Foto: Vortex/ divulgação.

As turbinas também têm substituído geradores a diesel em pequenos vilarejos africanos, garantindo o fornecimento de energia contínuo, reduzindo o impacto ambiental desses geradores e evitando acidentes provocados por queimaduras, principalmente em crianças. Embora a Vortex tenha levado energia para comunidades carentes e sem acesso fácil à energia elétrica, promovendo o cuidado com a natureza, outro benefício da iniciativa têm saltado aos olhos de investidores que buscam a solução, em tempos de crise energética.

"Nos tornamos uma ferramenta de produção de energia elétrica a baixo custo. Ao colocarmos todos os custos com as obras de instalação e manutenção, um quilowatt-hora pode chegar a 3 reais. Isso é muito barato", afirma Buydens. Para se ter uma ideia da economia, uma das energias mais baratas comercializadas no Brasil custa em torno de 65 reais por quilowatt-hora.

"Eu vivi na Índia durante um tempo e via como era ruim viver com interrupções constantes de fornecimento eletricidade. Quando essa energia chega pra valer, em pequenas comunidades, as pessoas começam a desenvolver pequenos negócios via telefones celulares, elas se conectam mais", explica Buydens, que ainda busca parceiros e locais para se instalar no Brasil. "No país conhecido pelos seus rios e grandes hidrelétricas, isso não deve ser um problema. Além disso, pense naquele jovem que quer estudar e não tem energia ao voltar para casa. Espero que isso traga uma evolução social totalmente nova e positiva nesses lugares."

Assista a trechos da entrevista em vídeo

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